Jornalista Eduardo Negrão será comentarista de novo programa de tv
6 de julho de 2020Covid-19: Arthur Virgílio Neto é transferido para Hospital Sírio Libanês
6 de julho de 2020Por Marta Rocha
Opinião| A escola é uma das instituições sociais que mais resiste ao tempo, principalmente, quando o tempo está em constantes mudanças. Não por falta de desenvolvimento de teorias, nem de metodologias. Por mais absurdo que pareça, a escola formatada no século XVIII, ainda está presente, com quase, as mesmas configurações no século XXI.
A revolução industrial consolidada no século XVIII, alterou a fisionomia do mundo, afetou o cotidiano das pessoas, criou um novo mundo de trabalho, uma nova maneira de ser e estar na sociedade, e o século XIX consolida todo esse impacto. É a era das máquinas, das alterações nas relações de produção, desenvolvimento do sistema fabril, ferrovias, navio a vapor. Cidades – grandes concentrações.
Surge a necessidade de se criar uma nova forma de educar ou melhor de instruir. Era necessário preparar as pessoas, para essa nova configuração social. Tudo passa a ser pensado com relação ao mundo do trabalho.
Tudo se pauta pela produção, então não vamos pensar nas pessoas e sim num aglomerado de gente, vamos pensar em uma massa heterogenia, mas tratada como homogenia. Tudo teve que ser massificado, a igreja, a escola, os meios de comunicação… A sociedade passa a ser a sociedade de massa.
Não havia tempo para preparar apenas algumas pessoas, mas sim a maior quantidade possível delas, pois o mundo do trabalho exigia isso, é o tempo da produção, e esse tempo, por si só, impõe uma rotina, um cotidiano, totalmente diferente da rotina da sociedade pré-capitalista, e a nova rotina passou a reger a vida.
Foto: Reprodução/ Internet
Vida que já fora regida pela igreja, pela agricultura, a vida do dia-a-dia, do cotidiano passa a ser pautado pelo mundo do trabalho. Quem assistiu “Tempos Modernos” de Chaplin, tem uma boa ideia do que estou falando.
Na sátira, apresentada no filme, Chaplin faz uma crítica a essa sociedade, ao apresentar o homem trabalhador das fabricas, das indústrias, em fim, da chamada produção em série, como um robô, seguindo uma rotina de um trabalho, totalmente repetitivo, regido por um tempo artificial e linear, simbolizado pelo relógio com seus ponteiros e seu “tic tac”, marcando cada atividade que deveria ser desenvolvida.
Ele nos mostra ainda, a onipresença do “chefe” que tudo vê, até na hora de ir ao banheiro o trabalhador sabe que o “chefe” está o vigiando e cronometrando o seu tempo. Este homem realizava um trabalho no qual não tinha noção do que estava fazendo, pois o foco estava no produto e não no trabalhador.
Outro aspecto, que chama atenção no filme é o predomínio completo do trabalho abstrato, sobre o trabalho concreto. Os conceitos de trabalho concreto e trabalho abstrato foram introduzidos por Marx no 1º livro de “O capital” (Marx, 1983).
O trabalho concreto produz valores de uso, enquanto o trabalho abstrato produz simplesmente valor. Ou seja, ao capital não interessa a forma como está sendo produzido ou que está sendo produzido, só o que importa é se está sendo criado valor.
Daí não sabermos exatamente qual mercadoria se produz, e certamente, nem mesmo os operários da fábrica o sabem. Coube a Escola a primorosa tarefa de moldar as pessoas para essa sociedade da produção em série.
Mas, como realizar tamanha façanha, se antes da sociedade capitalista a lógica de vida, o cotidiano das pessoas, e as relações sociais seguiam um ritmo totalmente diferente?!
A educação assume esse papel ao se institucionalizar na escola e, logicamente, deixa de ser educação, compreendida como interação social, que transforma, desperta a criticidade, e passa a ser o lugar da mera instrução. Ofertando, para o cumprimento do seu papel, um simulacro da fábrica, da indústria, e das novas relações sociais.
Na instituição escola, tem hora para entrar, tem tarefas repetitivas realizadas dentro e fora dela, tem um pequeno intervalo ou pausa para lanchar, e no dia seguinte tudo se repete.
O currículo estudado foi pensado para esse “novo mundo” regido pelo trabalho.
O método de ensino adotado é, predominantemente, dedutivista. Para que despertar nas pessoas a sua capacidade de pensar? Na sociedade capitalista, pensar e ter criticidade só atrapalha.
Esse modelo de escola com muitos alunos, numa mesma sala, um sentado após o outro, o professor/instrutor é o detentor de todo conhecimento, autoridade máxima, assim como o “chefe”, tarefas repetitivas, hora para entrar, pausa, e hora de sair, é o que perdura até hoje.
Claro que, muitos educadores se preocuparam com a formação das pessoas. Muitos métodos foram pesquisados, construídos, reconstruídos, mas a sociedade de massa capitalista, precisava forjar uma outra sociedade, a de consumo, mas a escola não muda, cabe aos meios de comunicação de massa o papel de estabelecer a sociedade de consumo.
Foto: Reprodução/ Internet
O tempo passa, e o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação criam uma nova configuração social: a sociedade da informação ou sociedade tecnológica. O mundo virtual se consolida totalmente na contemporaneidade. E a escola? A maioria delas permanece com a mesma configuração ou layout da revolução industrial.
Foto: Reprodução/ Pixabay
Professores desmotivados, insatisfeitos com o seu trabalho, estudantes entediados se sentindo um estranho no ninho. Em casa, refiro-me aos alunos de escolas particulares medianas, tem internet 24 horas, jogos eletrônicos.
Encontram tudo pronto em apenas um click, para que ler os livros da escola? Para que ir para a escola? A pandemia deixou isso mais evidente. Ir à Escola passou a ser mera obrigação. Os estudantes vão para escola e sua apatia é contagiante, na hora das aulas, olham a hora o tempo inteiro a espera de que tudo termine, para voltar correndo para os seus ninhos.
Foto: Reprodução/ Pixabay
Essa visão pode ser simplista e pouco analítica. Mas, acima de tudo espero que seja perturbadora, que incomode, e não nos acomode. Pois, na pandemia percebi o quanto a escola está fora do tempo.
O uso das tecnologias de Comunicação, existem para apoiar e potencializar o aprendizado, mas para muitas escolas, essas tecnologias, não sãos suas aliadas e sim inimigas. O que falar do temido celular que poderia ser usado para fazer pesquisa em tempo real, registrar atividades e compartilhar depois etc.
Paradas no tempo, totalmente sem instrumentos e estruturas para se modificar, e sem terem feito uso do potencial que as tecnologias dispõem, as escolas particulares com mensalidades que variam de R$ 500,00 à R$1.500,00, ficaram “correndo da sala para cozinha”. Demonstrando total despreparado para um mundo onde o virtual já está posto e consolidado.
O que se viu foram sites escolares totalmente defasados e subutilizados, sem estrutura para interação e para aulas online. Apesar de termos a disposição plataformas gratuitas, que dão possibilidade de se criar salas de aulas, com uma gama de ferramentas atrativas para ter a adesão do alunado, não havia sido pensado um mero treinamento para os professores, que de suas casas usando seus notebooks adotavam programas que hora funcionavam, e em outras só davam “dor de cabeça”.
Aula online não é a replica de uma aula presencial, os professores não podem falar, falar e passar “tarefas”, tem que usar a maior gama dos recursos disponíveis para atrair e manter a atenção dos seus alunos e avaliar com eles o quanto foi apreendido de fato.
Na pandemia, evidenciou-se também, que a Escola vai fingindo que educa, quando apenas instrui, e os estudantes fingem que aprendem, mas apenas memorizam para obter uma nota e atingir a média. Por isso, essa conta nunca fecha.
Esta era a geração, que iria puder escolher o que estudar no ensino médio, projeto engavetado, e já se falava de aula a distância para o ensino fundamental e o médio. E aí pandemia mostrou que há um longo caminho a ser percorrido. Nem me atrevo a fazer um prognóstico de como será essa geração, que sem saber já teve o seu futuro hipotecado.
Marta Rocha do Nascimento
A pesquisadora é Coach em Empreendedorismo Social e Econômico-Produtivo, Consultora de Marketing e Comunicação em Associações e Cooperativas. Atua como Palestrante e Facilitadora em Workshop e Comunicação Organizacional. É graduada em Comunicação Social (UFPE), Mestra em Administração e Comunicação (UFRPE) e Doutora Livre-Docente em Teologia (FATEAD-SP).